Vermelho sague: Jovens comunistas na luta contra a ditadura.

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05/04/2021 17:43:36 0 comentário

A ditadura empresarial-militar que abateu o nosso pais de 1964 a 1985 foi especialmente cruel com os jovens resistentes contra a ditadura, a maioria dos mortos e mortas pela ditadura tinham menos de 30 anos. 

Agora em Abril completamos mais um ano da terrível ditadura empresarial-militar que assolou o Brasil por mais de 20 anos, apesar de ser um dos períodos mais tenebrosos da história da democracia burguesa no pais, a elite representada especialmente pelo governo Bolsonaro continua a tentar modificar a história e transformar o golpe militar em “revolução”, atribuindo aos militares responsáveis pela ruptura democrática a alcunha de heróis. 

Esse texto não tem como intenção abordar de forma profunda os aspectos e detalhes das ações da ditadura, mas sim explorar e apresentar fatos que esclareçam a atuação constante e combativa das juventudes, e a repressão brutal e descabida reservada aos e as jovens nas fileiras da luta pelo resgate do Brasil.

Em 1964 a burguesia brasileira, assustada com os trabalhadores do campo e da cidade que faziam greves e ocupavam terras por todo o país, por meio do exército brasileiro e com apoio de camadas da pequena burguesia, realizou um golpe militar que reprimiu violentamente a classe operária e a juventude. A ditadura militar não só torturou, censurou e matou aqueles que lutavam por uma sociedade mais justa como também entregou o país para o imperialismo norte-americano.

Antes de tudo, é preciso relembrar que o golpe militar de 64 se justificava pela tentativa de impedir um “golpe comunista” elaborado pelos russos e cubanos, que transformaria o pais em uma nação socialista através da eleição de Jango. Essa narrativa já foi por diversas vezes desarticulada por historiadores, afinal, nem Jango nem o PTB tinham uma intenção de trazer uma revolução socialista nos moldes Cubanos ou Soviéticos, muito pelo contrário, João Goulart era um proprietário de terras gaúchas, e o PTB, partido que o levou a eleição na década de 60, foi fundado por Getúlio Vargas em 1945 para disputar as massas trabalhadoras contra o Partido Comunista do Brasil que vinha crescendo, principalmente entre os trabalhadores urbanos.  

Apesar disso, em 31 de março se iniciava o golpe militar conhecido principalmente pela sua violência e repressão brutal aos movimentos de resistência ao golpe, nessa luta contra a ditadura a juventude teve papel importante. Nesse período surgiram as grandes correntes de massa do movimento estudantil que atuam até hoje na defesa da democracia. Os Diretórios Centrais dos Estudantes (DCE), Grêmios Estudantis e a União Nacional dos Estudantes (UNE) renascem e se tornam palcos onde jovens protagonizavam a luta contra a ditadura.

A repressão desmedida contra a juventude!

Na tarde de 28 de março de 1968, quatro anos após o golpe militar, um grupo de policiais armados invadiu o Calabouço, restaurante público no centro do Rio de Janeiro. O objetivo era suprimir o movimento estudantil, que reclamava dos preços dos restaurantes, centros de convenções e discussões políticas da jovem oposição contra a ditadura. Na entrada, Edson Luís de Lima Souto, um estudante do ensino médio de 18 anos segurando uma bandeja, foi baleado no peito à queima-roupa e morreu imediatamente.

Edson foi o primeiro estudante a ser morto pelo regime, mas não o único... De acordo com um levantamento por idade feito pelo blog “Socialista Morena”, entre os mortos e desaparecidos da ditadura descobriu se que 56% deles e delas eram jovens com menos de 30 anos de idade. 29%, ou quase um terço dos mortos e desaparecidos da ditadura, tinham menos de 25 anos. São esses e essas jovens que os defensores ditadura falam que pretendiam implantar a “ditadura do proletariado” no País e por isso foram torturados e assassinados.

Além do cinismo, esse raciocínio também está comprovadamente errado. Até hoje, ninguém pode comparar o poderio militar do exército que portava tanques, fuzis, metralhadoras, bombas e soldados fortemente armados, contra dezenas de jovens que se juntaram à guerrilha sonhando em derrotar um regime. Somente pessoas sem acesso a informações ou maliciosas podem absorver a noção de que os soldados usaram a tortura para "impedir que transformem o Brasil em Cuba". Para aceitar esse raciocínio, é preciso admitir que o governo militar apoiado pelos Estados Unidos é um alvo frágil e que os partidários da luta armada apresentavam uma ameaça real a democracia burguesa instalada com aval e mobilização do imperialismo norte americano.

A primeira intenção da guerrilha era acabar com a ditadura militar. O que eles pretendiam fazer a seguir não é grande coisa, principalmente quando sabemos que essa vitória nunca seria alcançada, dada a desproporção dos dois lados na disputa. A guerrilha portanto é resultado do governo militar, não houve uma movimentação pré-golpe para se instalar a ditadura do proletariado. Na melhor das hipóteses, o que os apoiadores da luta armada fizeram só pode ser considerado uma sabotagem ao regime, ou simples ato sobrevivência. Uma coisa completamente justificável contra o governo militar. Portanto, eles e elas são heróis e heroínas. Aqueles que chamam a resistência a ditadura de “terroristas” conspiram com o terrorismo de Estado que se manteve em nosso país por 21 anos. 

E apesar da tentativa de colocar os jovens guerrilheiros como terroristas, fica evidente, ao analisar os documentos da ditadura, que boa parte dos mortos e desaparecidos nunca tiveram atuação na guerrilha armada. “No primeiro período, a repressão era contra a luta armada. Depois do AI-5, passou a ser contra qualquer um que se posicionasse contra a ditadura”, diz o ex-deputado Adriano Diogo, que em 2015 presidiu a Comissão da Verdade em São Paulo. “Eu mesmo nunca peguei numa arma e fiquei 90 dias na solitária na OBAN”. 

Mesmo com a ausência de qualquer prova de que a pessoa integrasse alguma organização ou movimento contra a ditadura, os fardados reivindicavam o direito de arrombar a casa e sumir com qualquer pessoa. Um dos exemplos mais tristes foi o de Paulo Torres Gonçalves, também de 19 anos, funcionário do Ibope no Rio e estudante secundarista, sem atuação armada, ou nem mesmo de agitação contra o governo comprovada até hoje. No dia 26 de março de 1969, os pais de Paulo haviam recebido a notícia de que ele teria sido preso pelo DOPS, mas que seria libertado em breve. Paulo Torres nunca voltou pra casa.

Juventude: motor da Guerrilha do Araguaia.

Sem desistir da luta urbana, o PCdoB organizou um movimento de resistência rural sob a orientação da teoria da Guerra Popular Prolongada. Desde 1966, ele locomoveu dezenas de militantes para a região do rio Araguaia, no sul do Pará, onde viviam com os moradores locais. No começo de 1972, havia na área 69 guerrilheiras e guerrilheiros, compostos por jovens e experientes comunistas, que formaram três destacamentos guerrilheiros e um comitê militar, entre eles João Amazonas, Maurício Grabois e Ângelo Arroyo.

A ditadura atacou fortemente o Araguaia em 12 de abril de 1972. A repressão durou mais de dois anos e um total de aproximadamente 10.000 soldados participou dessa ação, que foi a maior mobilização militar brasileira desde a Segunda Guerra Mundial.

A partir de 1973, um grande número de quadros da organização revolucionária Ação Popular Marxista-Leninista (AP-ML), pelo exemplo de bravura política do Araguaia, incorporou-se ao PCdoB, revitalizando o Partido, preenchendo com novos dirigentes e militantes os graves desfalques provocados pela repressão que se havia abatido sobre suas fileiras.

A Guerrilha foi dilacerada, uma parte dos guerrilheiros morreu em combate, outros foram presos, torturados e executados. Até hoje os corpos de quase todos eles continuam desaparecidos. A repressão militar não parou nas fileiras guerrilheiras, a repressão cometeu inúmeras atrocidades, como torturas, estupros, roubos e assassinatos contra pessoas do povo da região que apoiavam o movimento ou eram suspeitas de fazê-lo.

Hoje, o exemplo do Araguaia, a coragem dos guerrilheiros e a disposição de pagar com a própria vida a ousadia de enfrentar a ditadura impulsionam setores do povo – em especial da juventude – a se engajarem na luta democrática, popular e revolucionária. Os nomes de Osvaldo Orlando Costa, (Osvaldão), Dinalva Oliveira Teixeira (Dina), João Carlos Haas Sobrinho (Juca), Helenira Resende (Fátima), Antônio Guilherme Ribeiro Ribas (Ferreira) e dos demais guerrilheiros, e guerrilheiras, encontram-se na galeria de heróis do povo brasileiro.

Movimento estudantil e operário como palcos da resistência!

O assassinato do estudante secundarista Edson Luís marca o inicio de uma série de mobilizações estudantis e em protesto contra sua morte, a UNE decretou greve geral estudantil. Meses depois, em junho, ocorreu a Passeata dos Cem Mil, na época um dos atos mais importantes contra a ditadura militar.

No último mês de 1968 a repressão foi “legalizada” através do AI-5. Começa então a tortura e a perseguição aos dirigentes trabalhadores e estudantis e as manifestações foram violentamente reprimidas.  A UNE foi posta na ilegalidade e iniciou-se um período de refluxo da classe operária. O fim da década de 1960 e início de 70 foram marcadas pela morte de dirigentes importantes do movimento estudantil e operário. A tática de guerrilhas foi usada como “justificativa” para a repressão que o regime militar desencadeou com mais ferocidade, apesar de sabermos que as mortes e torturas foram aplicadas a pessoas que nunca tiveram relação com a resistência popular armada.

Nesses anos difíceis, o PCdoB mobilizou a criação da União da Juventude Patriótica (UJP), cujo líder Lincoln Bicalho Roque foi assassinado na repressão em janeiro de 1973. Outro membro do partido, o líder secundarista negro Joel Vasconcelos, foi, em 1971, o primeiro membro do PCdoB assassinado, ainda hoje desaparecido.

Em 1975, com o início da crise financeira afetando o governo militar, a situação mudou, começou a reorganização do M.E., e foram eles e elas que anteciparam o que aconteceria a partir de 1979. É importante destacar o importante papel dos socialistas neste período, como a força estudantil Liberdade e Luta, organização juvenil que decidiu levantar a bandeira da luta “Abaixo a Ditadura” em meio aos combates pelas liberdades democráticas. Estar em estado de batalha pela democracia e pela liberdade, permitiu o rápido desenvolvimento do movimento estudantil e motivou milhares de estudantes a se mobilizar contra o regime militar.

Em 1978 no 4º Encontro Nacional dos Estudantes foi convocado o Congresso de Reconstrução da UNE. A palavra de ordem de “Abaixo a Ditadura” se generalizou e no movimento operário cresciam as lutas. A UNE foi refundada em 1979 no Congresso que reuniu cerca de 10 mil jovens no Centro de Convenções de Salvador (BA), a histórica Carta de Princípios aprovada nesse Congresso apresentava em um de seus pontos:

“A UNE deve lutar contra toda forma de opressão e exploração, prestando irrestrita solidariedade à luta dos trabalhadores de todo o mundo”.

Durante os anos de 1975 a 79 as ruas voltaram a ser o palco da atuação estudantil e toda essa força que a juventude demonstrou exigindo o fim do regime militar inspirou e reanimou a classe trabalhadora e outros movimentos. Os estudantes estavam, a partir desse momento, ao lado dos trabalhadores apoiando as greves e se envolvendo nas organizações clandestinas de fábricas, ajudando as oposições sindicais. O PT e a CUT são os frutos colhidos dessa época, a classe operária aprendeu com a ditadura que precisava aumentar os seus instrumentos de luta contra os velhos partidos que a havia abandonado. Os trabalhadores necessitavam de sua unidade para a utilizar na luta por seus direitos, derrubar a ditadura e abrir caminho para a construção da sociedade socialista.

Atualmente, os jovens desempenham um papel fundamental na luta de classes, assim como se desenvolveram durante a ditadura militar brasileira. No entanto, para evitar erros que prejudiquem o desenvolvimento da classe, é extremamente necessário compreender a verdadeira importância dos jovens. Esforce-se. A juventude é a chama da revolução, e a classe trabalhadora, seu motor e líder.


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